Werner Fuchs
Se você notar em alguma província opressão de pobres e roubo em lugar do direito e da justiça, não fique admirado com isso; porque o que está num posto elevado tem acima de si outro mais elevado que o explora… O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo (Eclesiastes 5.8s).
Em problemas de saúde é necessário fazer um diagnóstico. O olhar clínico passa da fotografia à radiografia. Igual procedimento aplicamos para avaliar o desempenho de uma empresa. Porque um diagnóstico falho leva a ações inconsistentes. A análise não detecta apenas problemas, mas também pontos fortes. E possibilita agir de forma segura. É preciso ver bem para agir bem. Quem vê um problema sem ver as causas e correlações não vê o problema.
É estranho que em questões sociais e ambientais não tenhamos a mesma atitude. Cada dia recebemos uma avalanche de notícias sobre violência, pobreza, catástrofes climáticas, desmatamento, poluição e perda de biodiversidade. Mas raramente nos são dadas explicações apropriadas. Isso parece proposital. Para que não identifiquemos causas e causadores. A falta de clareza é cômoda para pessoas indiferentes, preconceituosas e seduzidas por vantagens pessoais. Mas também leva pessoas bem intencionadas a realizar ações pouco eficazes e justas.
Por exemplo, é correto dizer que o aquecimento global é causado pela ação humana, mas nem todos são responsáveis por igual. A culpa está nos empreendimentos poluidores, enquanto os mais frágeis são vítimas das tragédias. Ou: A principal causa do desmatamento na Amazônia, nunca mencionada, é o boi, que já deixou atrás de si trinta milhões de hectares de pastagens degradadas.
A Bíblia produz em nós uma visão crítica da realidade de dominação e exploração. Porém, junto com o diagnóstico pessimista o Eclesiastes afirma valores de justiça, nivelando rei e camponês: O proveito dos bens da terra deve ser para todos. Quando os discípulos disputavam cargos no reino de Deus, Jesus faz um diagnóstico da dominação pelos poderosos e lhes diz: “Entre vocês não é assim.” Usando seu próprio exemplo de servo, Jesus inverte a estrutura de valores e posições. Quem quiser ser grande seja diákonos, servo. Quem quiser ser o primeiro, seja doulos, escravo (Marcos 10.42ss). Jesus não está falando da virtude moral da humildade, mas da atitude de assumir a posição social mais baixa. Pois somente o olhar a partir de baixo é realista. Faz enxergar o fardo da opressão, para o qual Jesus oferece alívio (Mateus 11.28). Sem esse contraste de posicionamento social ao lado de vulneráveis e vítimas o evangelho perde clareza e força transformadora.
Somos gratos a Deus pelos que nos ajudam a entender as causas sistêmicas e por iniciativas de serviço firme e eficaz ao próximo e à bela criação dele.
- No: Jornal “O Caminho”, Blumenau: Otto Kuhr, maio e junho 2023, p. 2.; Semente de Esperança 2024, S. Leopoldo: Sinodal 2023, p. 124s.